História dos Cachos da Tia Gau

"Existem alguns lugares em que as mulheres não querem ter menos volume
."
Alô, alô marcianos,
Depois de milênios, eu resolvi postar algo. Por quê?
Bem, queria compartilhar meu amor pelos meus cachos. Nunca cheguei a contar a história que tive com o meu cabelo, coisas que me fizeram chegar no que sou hoje. Não é só sobre o que está na minha cabeça e lavo três vezes na semana, mas sim sobre me aceitar, me amar um pouco mais. 
Então, menos blá blá blá e mais cachos.

Nascida e criada no Rio de Janeiro, por favor, abram alas para a  Unidos dos Cachos da Gnomo. A minha história com meus caracóis é algo que pode ser caracterizado como amor e ódio. Mais ódio que amor. Calma, calma, que esse ódio era só antes de entender o porquê das coisas. 
Para falar desse assunto, vou ter que envolver uma parte da minha vida pessoal aqui, se importam? Não? Então vamos lá.

Minha amada e querida mãe é basicamente uma europeia nascida em terras tupiniquins. Sim, 100% produto nacional minha gente, só que com fabricantes importados. Filha de português, neta de italiano e bisneta de espanhol. Não existe um 0,0001% de melanina na família dela (por isso que não aceito muito essa coisa de que não tem brasileiro totalmente branco). 
Já a família do meu velho é a melanina agrupada. Sem exageros, o baiano pelo qual chamo de pai é uma mistura de família espanhola e africana. Lindo né? Meu tetra-avô era escravo e se casou com uma holandesa. Mesmo assim, a melanina prevaleceu.
Dessa fusão do arco-íris das "raças" humanas, foi formada a minha pequena pessoa, que a cor e o cabelo ficaram no meio termo. Não sou nem branquela nem "jambete", não tem o cabelo 2A da mamãe bem o 4b do papai. 
Onde entra a minha história capilar?
Ela começa no momento em que pouco tive contato com a gigantesca família de meu pai (os motivos são diversos e não precisam ser citados aqui). Desde então, eu vivo e convivo com a parte "europeia" da minha formação: gente branca, com características dos brancos entre elas o cabelo liso. 
A parte do ódio já citada pode ser entendida ai. 
Como uma criança sem estímulo de uma outra parte que a compõe pode aceitar e gostar disso? Não sei. 
Pode ser que nem todas sejam assim, mas muitas crianças cacheadas não aceitam essa parte de seu ser. Eu pelo menos não aceitei. 
Por mais que falassem o quanto meu cabelo "de anjo" era bonito, eu recusa e falava que não gostava. Queria ele "liso" como o da minha mãe, da minha avó, da minha madrinha. Eu achava injusto viver em um lugar onde todos eram brancos e com cabelo liso  e ficar morena quando pegava sol e ter cachinhos.
Os anos se passaram e eu continuava a me aceitar. Com quase 11 anos, minha tia inventou de passar prancha no meu cabelo. Não sei a urucubaca que ela fez que conseguiu queimá-lo todinho. Só ai foram uns 3 anos gastos para ele crescer.
No ano seguinte a minha fogueira capilar, minha madrinha me levou ao Beleza Natural, onde aquela "mágica" aconteceu e meus cachos "voltaram". 
Eu cheguei a fazer o super relaxante uma outra vez e depois nunca mais. Acho os cremes de lá até hoje uma coisa terrível de grudenta e pesada. 
Dois anos depois, eu finalmente aprendi a gostar do que era meu. Depois de tanto sufoco com prancha e relaxamento, nunca mais quis pensar em escova e suas parentes. Mesmo assim, cheguei a fazer um relaxamento numa suposta cabeleireira que conseguiu o inédito fato de me causar um corte químico na metade de cima do meu cabelo. Resultado? Trauma.
Em 2012, uma outra amiga da minha mãe a sugeriu que me levasse numa outra profissional, que só iria hidratar meu cabelo e nada mais. O plano inicial era esse: hidratação para sempre. 
Funcionou?
Não.
A fofa indicou uma tal de Escova Explosão, que iria "levemente abrir" meus cachos. Aham, senta lá Claudia. 
Tá, não vou mentir, a cabeleireira tem uma mão ótima, ela é maravilhosa, mas poderia ter avisado que iria alisar minha juba depois de três aplicações, né?
E foi exatamente isso. Cabelo alisado.
Você gostou?
No início sim, não fazia quase nada, acordava e tava pronta pra escola. Mas depois o enjoo do mesmo cabelo, mesma cara, mesmo minguado apareceu e eu parti para a internet.
pesquisava tudo o que podia sobre voltar ao natural e foi ai que conheci o fórum das cacheadas no - falecido - orkut. Nunca tinha visto tantas histórias parecidas e mulheres com cabelos lindos trocando informações valiosíssimas. Nada sobre big chop é frisado, apenas a transição e depois a vitamina T. 
Passei um tempo no fórum, até que descobri o grupo Amigas Cacheadas no Facebook. Ai sim era o universo que conheço hoje. Todo o vocabulário que eu tenho conhecimento hoje foi aprendido lá.
Fiquei em transição de julho de 2012 a janeiro de 2013, quando sucumbi aos prazeres da carne - ou seriam da sociedade alisada que defende que cachos dão trabalho - e voltei a Explosão. Como estava no meu último ano da Escola Normal, achei que seria melhor pela carga horária  e tudo mais. E para colocar a cereja no bolo, eu pintei o cabelo. 
Ai Deus, por quê?
Meu cabelo era as Cataratas do Niágara em matéria de queda. Nada melhorava. Parti para a transição pela segunda vez e fui firme e forte. Quando voltei para os grupos de apoio, descobri que o que antes era só um, tinha sido multiplicado por mil. Eram muitas meninas passando pela mesma experiência, a comunidade cacheada e crespa estava - e ainda está - num crescimento extraordinário. Simplesmente incrível. 
Eu ainda coloquei duas amigas no mesmo barco que eu. Ana (aqui do blog), já estava em transição do relaxamento e acabou pegando várias dicas. A minha outra amiga, não passou por nada disso, mas aproveitava as dicas dos cuidados. A torcida para voltar ao natural em casa e das amizades foi uma verdadeira ajuda. E mesmo assim, foram cinco meses terríveis com aquelas ondinhas fazendo o  favor de lutar contra a gravidade e colocar  meu cabelo para cima. E olha que eu já fazia cronograma nessa época. 
Cheguei em novembro cansada de ter que fazer coques e rabinhos muxoxos de cavalo, resolvi marcar meu grande corte. A primeira impressão era que eu parecia um menininho. Mas a alegria foi maior quando lavei e só tinha cachos ali. Pude brincar e amassar meu cabelo, porque dali em diante eu era "eu" novamente. Cem por cento natural. 
O choque com uma certa galera foi grande, juro que a espécie "Mulher" deveria ser estudada para saber qual o problema de se cortar o cabelo em um tamanho curto. Nesse caso, mandei todos catarem linhaça para fazerem gel.
Desde então, tenho me amado cada segundo. Meu cabelinho cresceu desde que tirei a química por completo. O cronograma ajuda muito, já era adepta um mês antes de cortá-lo. 
Não há nada no mundo que pague a satisfação de estar bem consigo mesma, de ter orgulho de ser quem és por completo. E olha que cabelo representa 60% no grau de importância. As vezes até mais.
O que eu deixo aqui, além da minha história é que, nós cacheadas que passamos por transição, somos como borboletas. Ficamos terríveis na nossa fase lagarta, mas depois de um tempo de casulo, saímos mais belas que nunca. Então é foco, força e cronograma!

Espero que tenham gostado.
Até a próxima.


- Cachos do poder

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